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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

A nossa vida é uma novela

Se há coisa que fazemos quando chegamos a casa, para além de abrir os envelopes com as contas da água, da luz e do gás para pagar, é ligar a televisão. Ligar a televisão, seja em que canal for, distrai-nos por momentos, e assim descansamos deitados no sofá, enquanto lanchamos uma tosta com aqueles leites de chocolate em pó aquecidos no micro-ondas. Logo por aqui se vê o cansaço acumulado da semana de trabalho que estafa os portugueses. Por isso, nada melhor que passar pelas brasas em frente a um écrã de televisão. Mas a vida que nos rodeia, ou melhor, a realidade que nos rodeia, não pode nem deve ser compactada e reduzida aos programas da TV, caso contrário passaríamos a pensar que não havia crise económica e que afinal a população portuguesa não está assim tão obesa (o que é praticamente impossível e comprovado pelas estatísticas de que está).

Outro factor centra-se no que vemos na televisão, e em que canal. Há canais de filmes (que passam o mesmo 5 vezes numa semana) e há canais de entretenimento, de desporto, entre muitas outras variedades. Diga-se então que a generalidade das pessoas (que já tem aquelas BOX’s da ZON e da TVCabo com tarifários prometedores) tem preferência pela TVI, o canal, que, na maioria das casas, se liga no botão 4 do telecomando e que se orgulha todos os anos das suas percentagens de audiências, que deitam por terra as estações da concorrência.
Ah, mas a programação da TVI é considerada milagrosa… A TVI faz uma aposta na produção nacional, tem tudo português e orgulha-se disso (exceptuando as séries que são todas copiadas de uns canais para os outros e até já dão repetidas). Depois da ficção, o entretenimento, de qualidade crescente, tende a seduzir os portugueses, que encontram naquele canal um “depósito” dos bons estilos de vida. Imaginem pois, a Júlia Pinheiro, nas suas Tardes, a gritar um número mágico começado por 760 e acabado em 700 que desencadeia correrias para os telefones nas casas das pessoas, que se deixam levar pela publicidade que entretanto começou e durará 20 minutos.

Finalmente, as novelas. As noites da TVI são fáceis de adivinhar, mas digamos que o espectador é confrontado com uma tonelada de ficção nacional. São 3 novelas por noite, com os seus títulos inspirados em músicas de cantores portugueses, como “Deixa que te Leve” e “Sentimentos”, que prendem os portugueses à TV, e as senhoras, lá em casa, vão cuscando e vão vendo a novela, fazendo tricô numas meias. Depois, a estreia das novelas tenta marcar sempre a diferença, porque os argumentos começam com acontecimentos escandalosos e até mesmo assustadores: cai um avião, há um furacão em Lisboa, dá-se um choque em cadeia e furam-se casamentos… houve até uma novela que recriou os atentados ao World Trade Center!
Depois, a história desenvolve-se, e quando a fúria e raiva mesquinha da personagem mais maléfica vem ao de cima, os adereços do cenário são deitados ao chão naqueles “takes” lamechas com choro forçado e música dramática de fundo.

Enfim, as novelas tendem cada vez mais a embrulhar-nos no seu mundo: um mundo que não é o nosso e que só convém apenas que nos distraia. Afinal, a nossa própria vida já é uma autêntica novela!

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