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terça-feira, 20 de abril de 2010

A praga dos tempos modernos


Eles não existem nem fazem o que se vê na TV e no cinema, não matam, não saltam, não voam nem conseguem fazer isso sem cabos elevatórios presos a gruas. Assim sendo, não há que ter medo de uma coisa que não existe, e que no ano passado acordou: os vampiros.
            Os vampiros (familiares próximos do horripilante lobisomem) andam por aí, no anonimato, em filmes e séries. Na verdade, as produções nacionais aproveitaram-se do seu renascimento das trevas para elaborar as magníficas séries juvenis de vampiragem com amores impossíveis: o vampiro é imortal, a humana toda gira permanece na ignorância e, como previsivelmente os opostos se atraem, acabam os dois apaixonados. O vampiro lamenta “Não posso ficar contigo!” e ela implora “O nosso amor é maior!”, com uma lágrima no canto do olho.
            Lamechices de parte, o local onde vivem estas modernas famílias de vampiros é bastante peculiar.
            À noite eles vivem no pequeno ecrã, saltam e correm à velocidade da luz para salvar as pessoas, alimentam-se como os humanos, mas bebem um líquido duvidoso (que, ao contrário do que se pensa, não é sangue, e se suspeita ser uma bebida da “Compal” Frutos Silvestres).
            Já de dia, os espécimes sugadores vivem protegidos: aguardam impacientemente nas grelhas televisivas dos canais generalistas, até saltaram para o ecrã e triunfarem com a cena mais chocante durante os 45 minutos em horário nobre. Fazem, no fim de contas, as delícias dos públicos mais juvenis. São ídolos, estudam, chegam a horas aos compromissos e usufruem de grandes contrapartidas: morrem apenas quando atingidos com uma estaca no coração – uma tentativa falhada para a maioria zarolha -, não têm de gastar balúrdios em cremes de rugas nem em liftings – dado serem fotogénicos -, tirando o facto de serem alérgicos aos raios solares – uma coisa mínima e curável com “Garnier Soleil”.
            Por entre os livros, CD’s, DVD’s, séries e posters, por entre Sagas obscuras e acessórios de uma indústria crescente e dispendiosa de merchandising, esta praga tende a subsistir.
            Parece que a vampiragem invadiu o mundo, num cliché já recorrente: uma nova espécie que tem a mania de que é mais que os humanos, tenta, na sua arrogância, dominar os outros povos.
            No entanto, em Portugal, o fenómeno (felizmente) não se verificou. Talvez por não terem conseguido arrendar cemitérios suficientes ou pela Remax não vender esses terrenos com fraca luminosidade e graves inconvenientes paisagísticos, os vampiros, perante as suas ordens de despejo da Transilvânia, limitaram-se a arranjar emprego nos canais da televisão e na literatura.
            E é bom que eles cá continuem. Faz bem aos portugueses conhecerem novos hábitos e culturas, e assim é da maneira que ASAE já não implica com os alhos fora de prazo nos restaurantes.
           

Páscoa... cá fora


A Páscoa, que por estes dias está em alta, motiva toda e qualquer deslocação para cidades que não a nossa de origem, como forma de desenvolvimento turístico de outras regiões, de consequente lucro hoteleiro e ainda de uma inevitável perda nas carteiras, que, no entanto, não é muito elevada.
O que se está a passar passa-se todos os anos: o sol brilha no Algarve e as ruas enchem-se de turistas, as pessoas vão ao banho (apanham uma gripe também), e ainda bebem uns cafés nas esplanadas. Os raios ultravioletas incidem na ilha da Madeira, o Funchal entope-se de turistas, as pessoas enchem os hotéis e deitam-se nas varandas (engripadas ficam também), e depois ainda vão beber cafés nas esplanadas.
Ora, todo este corrupio e movimentações de pessoas e fundos é mais que habitual; é pena não passar desses dois pontos e de Lisboa (onde os turistas se admiram com os bairros populares, com a Torre de Belém e com os pastéis nada caros).
E Setúbal? E as cidades da periferia? E o comércio dos arredores? Isso não se pode explorar? Certo é que, já de si, a nossa cidade não convida muito ao turismo, e se sim, apenas na baixa, mas isso não é razão para não haver um investimento mais activo por esta altura das férias, em que os setubalenses se deparam como que irremediavelmente enclausurados em casa a ver os filmes dos canais generalistas.
Seria agora de louvar o regresso das ideias milagrosas da nossa Presidente da Câmara. Aquele autocarro de andar e meio, onde está? Se estiver parado a apodrecer numa qualquer arrecadação da rodoviária era bom que o tirassem de lá e que o pusessem em movimento.
Em prol do desenvolvimento turístico tudo pode ser feito, e há que apresentar alternativas a Lisboa, Algarve e Madeira para passar as férias da Páscoa. Afinal, se assim continuar… apenas passamos férias… cá fora.

Feliz dor de barriga!


Se disserem que a Páscoa é estar com a família, é comer borrego até encher a pança e comprar ovos da Kinder Surpresa, estão apenas a caracterizar a Páscoa como uma celebração consumista.
Consumista e não só; familiarmente interesseira também, na medida em que os netos esperam sempre umas notas de 20€ no almoço com os avós, depois de se terem lambuzado com o ovo que pouco durou, devorado pelos menores já fartos do borrego da mãe.
            A Páscoa é uma ocasião bonita, sim, onde se encontram novamente os familiares e se põe a conversa em dia, mas é também uma altura em que surgem alguns inconvenientes intestinais.
            Por alguma razão aconselham sempre na escola a “não comer muitos ovos” ou a “ter cuidado com as amêndoas”. Sim, estes avisos que todos ouvem e que entram a 100 saindo a 120 rebuçados à hora deviam ser autênticas advertências ao consumidor, autênticos despachos do Ministério Público ou da ASAE, para zelar pela integridade interior dos estômagos dos portugueses desprevenidos.
Visto que, de qualquer forma, a diminuta informação de que “este produto, consumido em demasia, pode provocar efeitos laxantes”, ou outros do mesmo ramo que, no fundo, acaba na casa-de-banho, é ignorada, não tarda nunca muito para essas tais represálias se fazerem sentir para desgosto dos mais gulosos.
Esta festa, que é a Páscoa, é uma festa matreira… É quase como o Natal que nos serve de desculpa para os excessos nas azevias ou nos bolos-rei com as apreendidas prendas pela autoridade que mete o bedelho em tudo.
No Natal todos sabem o que é bom de comer, mas o seu ícone, que é o Pai Natal (justamente um nome não muito imaginativo) não faz alusão a doçarias, antes pelo contrário.
Pelo facto de ser cheiinho, no mínimo em risco de obesidade, até serve de lição para os mais pequenos que pensam “Ah, eu não quero ficar como ele! Vou comer só mais um chocolate”.
Agora, na Páscoa é diferente. Os coelhos são confeccionados em chocolate, branco, preto, gostoso e bem embrulhado em prata dourada, e depois há as intrometidas galinhas que, na hierarquia da capoeira não quiseram ficar atrás, e para isso mascararam-se de coelhos, inventando os ovos com surpresas “made in china”.
Comendo e deglutindo, nesta Páscoa 2010, para além dos turistas que vão de férias para o Algarve, muitos outros portugueses se vão babar nas prateleiras dos hipermercados ao ver as amêndoas e ovos e vistosos folares. Tudo é bom, decerto, mas tudo causa dor de barriga… quando se come em demasia.

À beira do abismo


O Mundo está a ser devastado por uma sucessão de acontecimentos catastróficos. Sismos, tsunamis, secas severas e dilúvios torrenciais aliados a vagas de frio implacáveis têm instalado o caos em muitos países nos últimos anos.
No ano passado, um dos piores invernos assolou a Europa e os EUA, matando centenas de pessoas e paralisando capitais. Já em 2010, um interminável dilúvio no Arquipélago da Madeira lançou a ilha numa calamidade de gigantescas proporções, tirando a vida a quase 50 pessoas, deixando um rasto de destruição de prejuízos incalculáveis.
Estes fenómenos extremos estão a gerar alguma ansiedade, senão mesmo pânico, pois correspondem às temíveis previsões do alarmista Calendário dos Maias que projecta a extinção da Humanidade, com base em sucessivos apocalipses, já para daqui a dois anos.
Para de alguma forma atestar essas terríveis previsões que centram o dia 21 de Dezembro de 2012 (21/12/2012) como a data em que ocorre o fim do Mundo, sismos de grande magnitude estão a ocorrer em todo o planeta. Há 2 meses, no Haiti, milhares de pessoas conheceram a desgraça num país já muito afectado pela miséria que se agravou com a devastação, e até há bem pouco tempo, o Japão registou um grande terramoto, seguido de outro que afectou fortemente o Chile e que lançou mortíferos tsunamis por todo o Pacífico.
Simultaneamente, vários fenómenos até há anos considerados raros na Europa estão a dar que falar, como um anticiclone que atravessou o Atlântico e que se abateu em Portugal, dirigindo-se para Espanha e França que sentiram igualmente efeitos do temporal.
Este leque de acontecimentos preocupa os especialistas, que por entre debates e análises tentam arranjar uma explicação, sem ao mesmo tempo alarmar as populações. Devido ao terramoto do Chile, com 8.8 de magnitude na escala de Richter, um dos maiores até à data a nível mundial, o eixo da Terra foi afectado, o que significa concretamente que as 24 horas ficaram mais pequenas 1,26 microssegundos.
Resta saber, pois, se o núcleo da Terra está mesmo a sobreaquecer. Se isso estiver a acontecer, será um passo para a beira do abismo!

A agricultura invadiu a net


Hoje em dia tudo é possível. Até é possível ressuscitar velhas profissões e hábitos actualmente caídos em desuso, como é o caso da agricultura que passou a ser encarada como uma profissão não muito apetecível, não lucrativa e difícil de manter.
Com efeito, uma das redes sociais mais conhecidas, o Facebook, tratou de divulgar o mais famoso jogo da quinta virtual – o FarmVille.
            No Farmville cada jogador tem uma quinta como propriedade, que, adivinhe-se, se assemelha em muito com uma verdadeira propriedade latifundiária alentejana. Há animais, terrenos, celeiros, vedações, árvores, lagos e todo o tipo de acessórios e pormenores que integram uma quinta normal, incluindo até outros apetrechos mais modernos, como vacarias automáticas que carregam a percentagem das vacas e que nos avisam quando as tresmalhadas estão prontas a dar leite.
Mas na nossa quinta virtual não se vivem os problemas de uma quinta da vida real, daí ser fictícia. Não, no FarmVille não sujamos as mãos de terra e lama ao plantarmos batatas, não ordenhamos vitelos com luvas calçadas nem colhemos frutos com o risco de dar um trambolhão de cima de um escadote. As adversidades do clima não estão patentes, e se não chove nem há vento, não precisamos de estufas para proteger as colheitas, nem precisamos de colocar marcos nos terrenos para impedir usurpações de propriedade privada. No Farmville só precisamos de perícia com o rato e sobretudo de paciência e agilidade. O resto, o programa faz.
            É, ao mesmo tempo, um passatempo que viciou já milhões de pessoas em todo o mundo. Na vida real seria impossível ir fertilizar os campos na quinta de um árabe, e neste jogo vamos até à de um chinês se for preciso, basta adicioná-lo como nosso vizinho, com a rapidez de um clique. Este é ainda um jogo que promove a solidariedade, que na maior parte das vezes é essencialmente interesseira, já que, quando fertilizamos os campos dos outros ou damos milho às suas galinhas, ganhamos “dinheiro” para nós, ou seja, ajudar os outros é promover a nossa PME. Outras vezes há quem se descuide e se desleixe com a sua própria quinta, e as colheitas apodrecem; mas, para salvar a situação, podemos revitalizar na totalidade a herdade decadente, o que significa que “com o descuido alheio se faz a fortuna própria”.
            E há mais facilidades e modernices no FarmVille. Já que é bastante fácil e rápido dar milho às galinhas e recolher os frutos, podemos sempre ir à caça de presentes e de coleccionáveis, para tentarmos o mais rapidamente acabar as colecções e publicar o bónus na página inicial (uma espécie de ecrã gigante onde se mostram as oportunidades a todo o segundo, tipo bolsa de valores). Para além de tudo isto, jogar em casa é fazer “agricultura de sofá”, sem nos incomodarmos com mais nada e podendo desfrutar de um qualquer bom programa de TV, não esquecendo que o trabalho é quando queremos e dá jeito, já não é de sol-a-sol.
           
A quinta virtual é uma ocupação paralela à da vida real… rentável, isenta de impostos, de cobranças, de papeladas burocráticas e de inspecções da ASAE. “É a maneira mais fácil de ter uma quinta que, em condições reais, seria impossível de sustentar”. Para além disso, no FarmVille arranja-se emprego garantido e salvaguardado de despedimentos, porque, afinal, o patrão somos nós!

O que é novo mete água


Sem nada ter contra as obras chinesas, o que é certo é que o novo Hospital de Cascais não foi construído por arquitectos chineses. Os materiais para essa obra sim, poderão ter sido fabricados na China, nomeadamente os das canalizações…
            Estes cenários caricatos não são excepção por cá, pois tudo o que é inaugurado, apesar de ser novo e mais moderno à partida, não está a salvo das intempéries mais atrevidas. E de que maneira choveu em Cascais! Poucas pingas bastaram para instalar o caos numa sala de espera novinha em folha de há uma semana. Na verdade, o novíssimo e sofisticado Hospital de Cascais foi alvo de um incidente sem vítimas humanas a registar, porque, tirando essa parte, o que se danificou foram uns quantos canos e umas placas do tecto.
            A sala de espera, onde aguardavam inúmeros doentes à espera no total de 133 consultas, teve de ser evacuada devido a um rebentamento de um cano de escoamento de águas do 3º piso do edifício. Ou seja, devido a uma inundação, de 133 consultas, apenas se realizaram 55, pelo que as pessoas que para lá se dirigiram depois das 11 da manhã deram de caras com homens de galochas a limpar lençóis de água. Já os pacientes que aguardavam na inesperada banheira… tiveram de sair.
            Questionados os responsáveis pelo hospital, eles apenas garantiram que semelhante situação tanto ocorreu neste hospital como poderá acontecer no de Santa Maria, e que o incidente não colocou em causa a moderníssima construção no que toca às suas capacidades para escoar a água do esgoto.
            Em suma, concluímos que as construções portuguesas são muito vulneráveis. Pagar um balúrdio por um hospital que alaga não caberá na cabeça de nenhum utente que, para se prevenir de eventuais dilúvios, passará a ir munido de galochas e bote salva-vidas para um hospital novo… que mete água!

O infractor que há em nós

Todos nós, com certeza, na mais pura inocência da infantilidade ou simplesmente na mais descuidada parvoíce adolescente, cometemos um delito na vida. Um simples furto, um mero roubo de um artigo de pequenas dimensões, maioritariamente, e quiçá um pacote de palhinhas de marca LIDL.

Ora, nestes tempos difíceis em que a crise daninha não nos deixa respirar e nos atola em despesas e contas ao fim do mês, o crime aumentou… e muito! Roubos, carjacking (uma moda, aliás, que mal sobreviveu em território português), assaltos a postos de abastecimento, a quiosques, a casas particulares, a caixas multibanco e, por fim, a centros comerciais, registaram-se e assustaram pessoas de norte a sul do país. É que o hipermercado Jumbo de Setúbal também foi alvo desta vaga de delitos, sem contudo registar o pior crime. 

Vejamos então o caso real que atesta esta realidade. De acordo com o jornal que retrata a vida activa que temos em Setúbal, n’ “O Setubalense”, uma rapariga de 18 anos, de nacionalidade romena, furtou jogos para Playstation. As caixas, bem alinhadinhas nas prateleiras publicitárias do hipermercado Jumbo, mal sabiam que a dado momento iriam ser raptadas e encafuadas num saco forrado a folha de alumínio. Entretanto, a jovem romena foi prontamente detida no Jumbo (detenção essa de rara celeridade), a meio da tarde, e com prontidão ouvida no tribunal, devido ao seu furto dos jogos no valor de 272 euros. 

 Este foi mais um delito que ocorreu no Jumbo. Mas voltando à conversa inicial deste texto, todos nós já cometemos uma espécie de transgressão, e não são raras as vezes em que uma criança distraída se apodera de um pacote de rebuçados (para satisfazer a sua gula) e passa a zona das caixas de pagamento sem que nenhum alarme seja activado e sem que ninguém se aperceba.  

Ora nem mais: constata-se pois que todos nós temos aquele pequeno descuido, que sem más intenções passa despercebido. É o infractor que há em nós.

Um shopping para as moscas


Os passeios em família dos setubalenses permitem descortinar várias realidades recônditas da cidade.
Por exemplo, ao darmos um pulinho à baixa (munidos de bote e galochas para alguma eventualidade) podemos apreciar a operação cirúrgica do Fórum Luísa Todi que está ainda para durar muitos séculos, e, noutro contexto, deslocamo-nos ao vulgarmente conhecido Jardim da Beira-Mar e avistamos em Tróia uma espécie de “nave espacial” que lá ao fundo aterrou só para alguns (dado que nesse mundo apenas passa o “povão” que nos dias de Agosto se refugia na praia de bandeira azul do complexo onde o custo de uma bica equivale ao de um quadro do Picasso).
O que me trouxe até aqui foi o simples facto de eu me ter deslocado até ao Shopping Aranguês na mais pura tranquilidade de cidadão que já espera ver de tudo, que fica na Rua Bento Gonçalves (aquela avenida inclinada que favorece as cheias na baixa ao escoar os dilúvios desde o Hospital).
E foi maior o meu espanto e admiração quando me apercebi de que, no piso superior do centro comercial, muitas eram as lojas que estavam fechadas.
Nas monstras da maior parte dos estabelecimentos lêem-se os inegáveis cartazes do “TRESPASSO” e do “VENDO ou ALUGO”, o que significa que quase metade do shopping está para venda.
Ora, se um outro sadino deambular pelos corredores vazios do centro comercial, com toda a certeza vai reparar que muitas lojas sofreram mutações inesperadas, passando de loja de roupa cara a loja de roupa desportiva, decaindo para loja de sapatos e mais tarde para loja de acessórios de moda, e assim sucessivamente numa espiral que transformará inevitavelmente os espaços comerciais em estupendas lojas dos chineses.
Sim, porque o português que é português, para além de dispor de um campo de visão restrito que se assemelha ao da pala dos cavalos, apenas se esforça em visitar as lojas do piso de baixo, porque, vá-se lá saber, há sempre as desculpas do “Ah, estou cansado(a) da semana toda e dói-me a anca” ou “Dá trabalho ir lá acima e ter de subir as escadarias”, portanto, apenas os estabelecimentos do corredor virado para rua no piso de cima sobrevivem à escassez de clientes e aos seus propositados entraves visuais e motores.
Nos corredores do piso de cima já só abrem duas cabeleireiras, 3 cafés e escassas lojas de roupa com descontos de 50%. A música ecoa pelos cantos e se passar alguém para ir à sex-shop já é bom.
Há mais moscas que compradores no Shopping Aranguês.
A culpa do mau negócio tanto pode ser do arquitecto, como da crise, como da inércia, como do piriquito engaiolado. Mas há poucas razões para as lojas terem fechado: ou a ASAE cometeu uma loucura ou uma dor súbita e geral de anca afecta todos os setubalenses impedindo-os de reanimar aquele débil comércio.

Relações Político-Juvenis


Todos os dias vemos políticos na televisão, todos os dias eles discursam e competem entre si, e de repente damos por nós a pensar “quem irá ocupar futuramente o lugar deles?”. Essa tarefa cabe, logicamente, aos jovens que nos dias de hoje se vão formando e que amanhã podem já estar a governar a nação.
            Mas a relação dos jovens com a política está em muito debilitada, logo pelas elevadas taxas de abstenção no voto levadas a cabo pela camada jovem portuguesa, que encara o mundo da política como uma actividade aborrecida ou até mesmo desinteressante.
Mas na verdade isso não pode ser assim, pois são os jovens que sucederão aos actuais ministros que hoje governam o país e que todos os dias se debatem perante questões de extrema importância. Desde a construção de obras públicas, da averiguação de casos polémicos em que alguém (conhecido por outras polémicas) decidiu construir um centro comercial precisamente na rota de pássaros numa área protegida, à decisão do fecho das urgências ou à implementação de portagens nas auto-estradas, toda uma série de actividades se desenrolam no mundo da política, as quais têm reflexo na televisão, encantando muito poucos jovens.
Mas não só de preguiça ou desinteresse se traça o perfil da imparcialidade juvenil face à política. Na verdade, a maioria não sabe sequer o nome dos principais ministros, chegando mesmo a confundir o nome do Presidente da República com o do Primeiro-Ministro. Assim, muito falta ainda para a esmagadora maioria se conectar com o mundo da Assembleia da República que acarreta responsabilidades que não agradam aos adolescentes.

Compromete-se, pois, à vista de todos, o futuro de governação do país.
E se nada for feito, cai-se num ciclo de sucessões por interesses pessoais nos diversos cargos, onde a qualidade dos serviços prestados à nação por quem lá está vai diminuindo. A minha suspeição é a de que os políticos  só se mantêm nos cargos devido às benesses obtidas com a aprovação de um ou outro projecto (quem sabe fora dos trâmites legais), ou situações afins.
Há que apelar aos jovens para os aproximar mais da política. O país é de todos e o futuro reside neles.

"Mobilodependência"


É tão usual que já nem damos conta, e o que é certo é que já não há adolescentes como antigamente. Agora os namoros são à distância, as cartas coloridas são via electrónica e até os beijos qualquer dia são em três dimensões. As tecnologias invadiram-nos o Mundo… e tão cedo não despegam.
            As telecomunicações facilitaram muito as nossas vidas. Dissemos “adeus” aos monos dos telefones de caixa e de fio de meio metro que existiam só para os mais abastados e dissemos “olá” às últimas gerações de dispositivos que nos permitem uma ligação instantânea ao Mundo: os telemóveis, computadores e Internet. Mas esta adesão em massa está a causar graves problemas (que não se restringem às negligenciadas radiações malignas). 
            De acordo com um estudo do INE (Instituto Nacional de Estatística), a esmagadora maioria dos jovens com idades entre os 10 e os 15 anos usa telemóvel; ou seja, 84,6% dos jovens tem aquele indispensável aparelho que vive com eles todos os santos dias, desde o despertar até à mensagem de “boa-noite” para a namorada. Se esta percentagem não assusta, atentemos nos hiperbólicos números que se seguem: são enviados 236 “sms” por semana, há mais de 125 contactos em cada aparelho, e, aos 16 anos, cada jovem já teve mais de três telemóveis. Agora sim percepcionamos a verdadeira realidade da obsessão e dependência dos engenhos, que quando surgiram, serviam apenas para telefonar. Mas hoje não; hoje, se olharmos para um adolescente qualquer, depressa descortinamos a fina caixa com ecrã luminoso onde se exibem todos os tipos de mensagens, fotografias, páginas da Internet, músicas e afins. Sim, porque até a Internet foi pôr o bedelho nos telemóveis. Para além dos sms’s podemos ir à página do Facebook ou do Twitter, que são das redes sociais mais badaladas. Hoje em dia, não ter uma página social equivale a não ter ADN e, consequentemente, a já não conhecer personalidades.
            As camadas jovens usam e abusam dos dispositivos e deixam-se levar pelas infinitas capacidades e serviços prestados “na vanguarda da comunicação”. Seja num almoço em família, onde está a ser enviada a mensagem para combinar a saída logo à noite, seja na praia ou à porta do cinema, nas aulas e até na casa-de-banho, o telemóvel é omnipresente em todas as circunstâncias, até nas situações mais ridículas onde um colega manda uma mensagem para o outro que está a 3 metros de distância.
            A “mobilodependência” é apenas um título para a nova pandemia revolucionária que se espalhou pelo mundo. Hoje tudo está ao alcance de um clique. Um fenómeno que tenha ocorrido no Brasil pode estar meia hora depois a chegar ao conhecimento de uma rapariga que passeia por Lisboa.
Neste prisma suspeito, um jovem estar sem telemóvel é como uma caneta estar sem tinta.