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terça-feira, 20 de abril de 2010

Um shopping para as moscas


Os passeios em família dos setubalenses permitem descortinar várias realidades recônditas da cidade.
Por exemplo, ao darmos um pulinho à baixa (munidos de bote e galochas para alguma eventualidade) podemos apreciar a operação cirúrgica do Fórum Luísa Todi que está ainda para durar muitos séculos, e, noutro contexto, deslocamo-nos ao vulgarmente conhecido Jardim da Beira-Mar e avistamos em Tróia uma espécie de “nave espacial” que lá ao fundo aterrou só para alguns (dado que nesse mundo apenas passa o “povão” que nos dias de Agosto se refugia na praia de bandeira azul do complexo onde o custo de uma bica equivale ao de um quadro do Picasso).
O que me trouxe até aqui foi o simples facto de eu me ter deslocado até ao Shopping Aranguês na mais pura tranquilidade de cidadão que já espera ver de tudo, que fica na Rua Bento Gonçalves (aquela avenida inclinada que favorece as cheias na baixa ao escoar os dilúvios desde o Hospital).
E foi maior o meu espanto e admiração quando me apercebi de que, no piso superior do centro comercial, muitas eram as lojas que estavam fechadas.
Nas monstras da maior parte dos estabelecimentos lêem-se os inegáveis cartazes do “TRESPASSO” e do “VENDO ou ALUGO”, o que significa que quase metade do shopping está para venda.
Ora, se um outro sadino deambular pelos corredores vazios do centro comercial, com toda a certeza vai reparar que muitas lojas sofreram mutações inesperadas, passando de loja de roupa cara a loja de roupa desportiva, decaindo para loja de sapatos e mais tarde para loja de acessórios de moda, e assim sucessivamente numa espiral que transformará inevitavelmente os espaços comerciais em estupendas lojas dos chineses.
Sim, porque o português que é português, para além de dispor de um campo de visão restrito que se assemelha ao da pala dos cavalos, apenas se esforça em visitar as lojas do piso de baixo, porque, vá-se lá saber, há sempre as desculpas do “Ah, estou cansado(a) da semana toda e dói-me a anca” ou “Dá trabalho ir lá acima e ter de subir as escadarias”, portanto, apenas os estabelecimentos do corredor virado para rua no piso de cima sobrevivem à escassez de clientes e aos seus propositados entraves visuais e motores.
Nos corredores do piso de cima já só abrem duas cabeleireiras, 3 cafés e escassas lojas de roupa com descontos de 50%. A música ecoa pelos cantos e se passar alguém para ir à sex-shop já é bom.
Há mais moscas que compradores no Shopping Aranguês.
A culpa do mau negócio tanto pode ser do arquitecto, como da crise, como da inércia, como do piriquito engaiolado. Mas há poucas razões para as lojas terem fechado: ou a ASAE cometeu uma loucura ou uma dor súbita e geral de anca afecta todos os setubalenses impedindo-os de reanimar aquele débil comércio.

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