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terça-feira, 20 de abril de 2010

A agricultura invadiu a net


Hoje em dia tudo é possível. Até é possível ressuscitar velhas profissões e hábitos actualmente caídos em desuso, como é o caso da agricultura que passou a ser encarada como uma profissão não muito apetecível, não lucrativa e difícil de manter.
Com efeito, uma das redes sociais mais conhecidas, o Facebook, tratou de divulgar o mais famoso jogo da quinta virtual – o FarmVille.
            No Farmville cada jogador tem uma quinta como propriedade, que, adivinhe-se, se assemelha em muito com uma verdadeira propriedade latifundiária alentejana. Há animais, terrenos, celeiros, vedações, árvores, lagos e todo o tipo de acessórios e pormenores que integram uma quinta normal, incluindo até outros apetrechos mais modernos, como vacarias automáticas que carregam a percentagem das vacas e que nos avisam quando as tresmalhadas estão prontas a dar leite.
Mas na nossa quinta virtual não se vivem os problemas de uma quinta da vida real, daí ser fictícia. Não, no FarmVille não sujamos as mãos de terra e lama ao plantarmos batatas, não ordenhamos vitelos com luvas calçadas nem colhemos frutos com o risco de dar um trambolhão de cima de um escadote. As adversidades do clima não estão patentes, e se não chove nem há vento, não precisamos de estufas para proteger as colheitas, nem precisamos de colocar marcos nos terrenos para impedir usurpações de propriedade privada. No Farmville só precisamos de perícia com o rato e sobretudo de paciência e agilidade. O resto, o programa faz.
            É, ao mesmo tempo, um passatempo que viciou já milhões de pessoas em todo o mundo. Na vida real seria impossível ir fertilizar os campos na quinta de um árabe, e neste jogo vamos até à de um chinês se for preciso, basta adicioná-lo como nosso vizinho, com a rapidez de um clique. Este é ainda um jogo que promove a solidariedade, que na maior parte das vezes é essencialmente interesseira, já que, quando fertilizamos os campos dos outros ou damos milho às suas galinhas, ganhamos “dinheiro” para nós, ou seja, ajudar os outros é promover a nossa PME. Outras vezes há quem se descuide e se desleixe com a sua própria quinta, e as colheitas apodrecem; mas, para salvar a situação, podemos revitalizar na totalidade a herdade decadente, o que significa que “com o descuido alheio se faz a fortuna própria”.
            E há mais facilidades e modernices no FarmVille. Já que é bastante fácil e rápido dar milho às galinhas e recolher os frutos, podemos sempre ir à caça de presentes e de coleccionáveis, para tentarmos o mais rapidamente acabar as colecções e publicar o bónus na página inicial (uma espécie de ecrã gigante onde se mostram as oportunidades a todo o segundo, tipo bolsa de valores). Para além de tudo isto, jogar em casa é fazer “agricultura de sofá”, sem nos incomodarmos com mais nada e podendo desfrutar de um qualquer bom programa de TV, não esquecendo que o trabalho é quando queremos e dá jeito, já não é de sol-a-sol.
           
A quinta virtual é uma ocupação paralela à da vida real… rentável, isenta de impostos, de cobranças, de papeladas burocráticas e de inspecções da ASAE. “É a maneira mais fácil de ter uma quinta que, em condições reais, seria impossível de sustentar”. Para além disso, no FarmVille arranja-se emprego garantido e salvaguardado de despedimentos, porque, afinal, o patrão somos nós!

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