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sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Os contentores contra-atacam

Inviável, falível, vergonha para o Estado, buraco financeiro e perda de tempo. É assim que se designa todo o projecto de Alargamento do Terminal de Contentores de Alcântara, em Lisboa (A.T.C.A). Mas atenção: tudo o que não é bem visto e bem recebido a início, assegura a sua marca portuguesa. Já tudo o que for viável, infalível, orgulho para o Estado, gerador de fundos e aproveitamento de tempo… não tem a típica marca portuguesa. (Os portugueses gostam de marcar a diferença).Pois é isto que temos: um terminal de contentores privatizado para a Liscont (empresa do grupo MotaEngil), um terminal que ameaça tapar a vista para o Tejo. Mas não nos deixemos ficar por aqui. É necessário avaliar os argumentos prós e contras de todo este projecto afogado em polémicas “metálicas”.

De um lado, as “ovelhas negras”, aliadas ao Governo que encara o Terminal de Alcântara como um pólo estrutural da economia que move contentores por este mundo fora. O presidente do Sindicato dos Estivadores revela que concorda com a decisão do Governo (mas que bem que lhe fica concordar…) e explica que sem a obra «o porto de Lisboa vai acabar por morrer». Mas não seja por isso! Se o porto de Lisboa (que nem se confina ao terminal de contentores) pode acabar por morrer, então que se dê uma injecção de material encaixotado! Mais 200 contentores! Força nisso até tapar a vista às pessoas e o Sol às gaivotas!
Já os que estão no outro lado da maré, neste caso os amigos do ambiente e bons defensores dos concursos públicos (que nem se viram porque o Estado deu tudo de bandeja à MontaEngil), defendem que «a expansão do terminal [que está a gerar polémica], é negativa, sobretudo pelo impacto visual e ambiental que pode causar». Isto, mais sucintamente, significa que corremos o risco de abrir a janela e em lugar do Tejo vermos placas de metal com logótipos empresariais. (E sim, estas apreciações são indispensáveis para as manhãs de um Lisboeta).

Por último, o projecto inicial acarretava mais mudanças no actual terminal, como a implementação de linhas ferroviárias para os comboios de mercadorias andarem debaixo do chão. Todavia, esses comboios deveriam provavelmente envergar pelo mesmo caminho do túnel que alagou. Vê-se, portanto, que as mais-valias apresentadas foram mais que as desvantagens. Na realidade, a Liscont estava indiferente para as gaivotas que poderiam ou não bater com a cabeça nos contentores, dizendo sim que o projecto de alargamento traria benefícios sociais e económicos. Mas José das Neves Godinho, o presidente da Junta de Freguesia de Alcântara, considerou este argumento «uma falácia».
Terminais à parte, cá em Portugal, tudo o que não é polémico não é português, salvo raras excepções. E muito sinceramente, o cenário que um turista deve contemplar, assim que põem os pés em Lisboa, não deve ser de contentores.
Essa situação daria asas a um diálogo deste género:

- Finalmente chegámos à cidade das Sete Colinas!

- Cidade das Sete Colinas?! Cidade dos 700 contentores!


 

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